"La Liberté guidant le peuple" ("A Liberdade guiando o povo"), pintura de Eugène Delacroix em comemoração à Revolução de Julho de 1830. Uma das inspirações de Victor Hugo.
E hoje vamos dar início aos posts do Diário de Leitura que a Ines e eu estamos fazendo do livro “Os Miseráveis”, de Victor Hugo. Esse primeiro post será sobre o primeiro livro da primeira parte da história, que pertence à Fantine. Foi uma ótima ideia da Ines de fazermos os posts assim (por livro), pois é uma maneira de contar a história por personagens ou por ciclos da história. Ficará melhor para vocês entenderem a história também. Vamos lá!
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A Fabi também já fez uma resenha do livro e está bem AQUI.
:: COMENTÁRIOS DA BEL VF ::
:: Introdução ::
O livro possui uma Introdução muito bem escrita e elucidativa, feita por Jean Pierre Chauvin. Ele nos conta como o livro é dividido, o momento da história no qual ele foi escrito e um pouco do que se passava na mente de Victor Hugo. É bem teoria literária.
"Derrubemos a golpes de martelo as teorias, as poéticas e os sistemas. Atiremos por terra o velho revestimento de estuque que mascara a fachada da arte!" (Victor Hugo)
A obra não foi publicada integralmente de uma vez. Primeiramente, Victor Hugo publicou apenas o Livro da Fantine, ao redor do qual houve muita publicidade, agitação e curiosidade por parte das pessoas. O sucesso foi gigantesco, claro, é uma obra de arte sem igual. E ainda apresentava conteúdo político, social e econômico do período no qual a história se desenvolvia, e ainda com a influência e características do Romantismo do Século XIX. Na época, Os Miseráveis foi um best seller.
A divisão do livro se dá por meio de cinco partes, cada parte é subdividida em livros e, dentro destes livros, estão os capítulos. E Chauvin compara sua divisão com a mesma estrutura de divisão da Bíblia.
"A Bíblia católica, para mencionar outro exemplo milenar e conhecido universalmente, está agrupada de maneira relativamente similar. Os livros que nomeiam as Escrituras preservam a mesma denominação, com o intuito de facilitar o agrupamento dos textos reunidos no Antigo e Novo Testamento" - pág. 22
Apesar de ter sido um pouco difícil pelo número de citações e referências literárias/bibliográficas, a introdução desse livro foi muito boa para me deixar preparada para o que eu estava para ler. Deixou bem claro a maneira como Victor Hugo vai conversar conosco através de seu narrador onipresente e onisciente, e como identificar quando é o narrador e quando é Victor Hugo que está falando conosco.
:: Pimeira Parte - Fantine / Livro 1 – Um Justo ::
Nesse primeiro livro, apesar de ser da Fantine, não vamos ainda conhecê-la ainda. Vamos conhecer um personagem muito querido, Charles-François-Bienvenu Myriel, o Monsenhor Bienvenu (significa “Bem vindo”, em francês), muitíssimo importante na história.
Quando ele nos é apresentado, ele já está com seus 75 anos, bem velhinho, mas nem por isso menos ativo e disposto a ajudar e trazer conforto aos necessitados. De início, podemos resumir a pessoa do Monsenhor como sendo uma luz de esperança para quem está na escuridão da miséria.
"Como, de ordinário, há sempre mais miséria entre as camadas inferiores do que fraternidade entre as superiores (...)" - pág. 48
Ele não seguiu sempre a vida religiosa. Antes, ele era casado, sem filhos, vivia na Itália e levava uma vida muito boa na sociedade. Com a morte de sua esposa, ele se dedicou à vida religiosa e não é muito bem explicado o motivo de toda essa mudança. Mas creio que, além de sentir falta da família, a sociedade teve muita influência nessa tomada de decisão, pois sabe-se que a sociedade julgava (e ainda julga, diga-se de passagem) duramente a maneira como as pessoas viviam suas vidas. Ainda mais após a morte de sua esposa.
Este intervalo da vida do bispo entre a morte de sua esposa e até ele se tornar um homem da igreja é um pouco obscuro, sem maiores detalhes. Mas, a partir do momento em que ele é nomeado bispo por Napoleão I, teremos mais informações detalhadas sobre sua vida, seu modo de pensar, os lugares por onde passou etc.
"- Meu Deus, primo! Em que está pensando? / - Estou pensando - disse o bispo - em algo singular que li, creio, em Santo Agostinho: "Põe tua esperança naquele a quem ninguém substitui" - pág. 51
Boa parte da narrativa vai passar na paróquia de Digne, onde ele sempre vai dar um jeitinho de ajudar cada vez mais os pobres. Seja abdicando do uso de transporte para usar as despesas como esmolas aos pobres, seja deixando o conforto de sua casa para ficar mais próximo de seus filhos.
E durante a leitura deste primeiro livro, na apresentação do Monsenhor a nós leitores, não vamos nos deparar com um exemplo de pessoa que atingiu a perfeição e a santidade. O Monsenhor Bienvenu é um ser humano e, mesmo com toda essa sabedoria adquirida nos anos de trabalho na religião, ele ainda possui seus defeitos e imperfeições humanas. Um exemplo, ele adora comer com talheres de prata.
"O Homem tem sobre si a carne, que é ao mesmo tempo seu fardo e sua tentação. Ela o arrasta, e ele cede. Seu dever é vigiá-la, contê-la, reprimi-la, e obedecer a ela só em último caso. Nessa obediência ainda pode haver culpa, mas trata-se de uma culpa venial. É uma queda, mas uma queda de joelhos, que pode terminar em oração. Ser santo é uma exceção; a regra é ser justo. Errem, caiam, pequem, mas sejam justos. Pecar o menos possível é a obrigação de todo homem; não pecar nunca é o sonho do anjo. Tudo o que é terrestre está sujeito ao pecado. O pecado é uma gravitação" - pág. 53Ele é uma pessoa muito sábia, sempre tem uma palavra na ponta da língua, exatamente do jeito que um necessitado precisa ouvir. Há passagens nas quais o comparam a Jesus, por ele andar somente a pé e falar por parábolas. A maioria das citações que marquei no livro até agora, foram todas dele, coisas que fazem a gente pensar nas coisas do dia a dia.
Em momento algum nós o veremos julgando alguém. Cada um tem sua liberdade para pensar e ter sua opinião. E ainda assim, mesmo ele discordando da opinião de alguém, lá estava ele oferecendo apoio, conforto e até mesmo o silêncio de sua companhia.
Nesse primeiro livro não acontece nada, é realmente apenas uma apresentação. Mas, ainda assim, fiquei desde já encantada pela escrita de Victor Hugo. Parece que ele está aqui ao meu lado contando uma velha história sobre pessoas conhecidas durante uma tarde, tomando um chá. Ele é bem detalhista durante a escrita e me lembrei bastante de Tolstói durante a leitura. Porque ele esmiúça cada passo, pensamento e sentimento do personagem com uma exatidão que transfere cada sentimento para nós mesmos. Simplesmente incrível! E quem já leu Tolstói, sabe do que eu estou falando! Lógico, cada um a sua maneira, mas ambos nos deixam sentindo tudo aquilo que o personagem também está sentindo.
"O cadafalso, com efeito, quando está lá, preparado e aprumado, tem qualquer coisa que alucina. Podemos ter certa indiferença em relação à pena de morte, podemos não nos pronunciar, dizer sim ou não, enquanto não virmos com os próprios olhos uma guilhotina; mas, se encontrarmos uma, o abalo é violento, temos de nos decidir a favor ou contra" - pág. 55
Fiquei bastante emocionada com os pensamentos e modo de vida do Monsenhor, tudo o que ele falava, acalentava meu coração e me deixava mais leve. A humildade, a benevolência e o desapego presentes nas páginas desse primeiro livro foram também um conforto para mim. Em alguns momentos, eu tinha que dar aquela parada de ler para respirar e assimilar tudo. Sério, é divino!
O livro não é tão difícil de ser lido quanto eu imaginava. Acho que é a tradução dessa edição, pois está muito tranquilo de ser lido e estou conseguindo ler várias páginas seguidas, sem intervalos. A diagramação dessa edição que a Ines e eu estamos lendo é ótima e nossos olhos que usam óculos agradecem haha! #velha
"Nunca temamos nem os ladrões nem os assassinos. Estes são perigos externos, pequenos perigos. Temamos a nós mesmos. Os preconceitos, esses são os ladrões; os vícios, esses são os assassinos. Os grandes perigos estão dentro de nós. Que importa o que ameaça nossa vida ou nossas bolsas?! Preocupemo-nos apenas com o que ameaça nossa alma" - pág. 67
Já disse que eu não tenho formação nenhuma na área de literatura ou tradução, mas pude perceber que essa tradução possui um vocabulário mais moderno, mas sem perder sua elegância. Para mim, que tem uma vida corrida, cabeça cheia de coisas e preocupações, digo que essa edição está ótima, pois não é cansativa. E, mesmo depois de um dia de trabalho, consigo pegar o livro e ler algumas páginas. Creio que, se eu estivesse lendo a outra edição que tenho aqui, da Círculo do Livro (da década de 80), não teria o mesmo rendimento de leitura e assimilação que tenho com essa. Mas é assim, cada um escolhe a que acha mais ideal para si. Muitas pessoas não gostam de traduções com vocabulário mais moderno. Eu pensei que não gostasse, mas o trabalho feito nesta edição está ótimo. Isso para mim, certo?!
Enfim, essas foram as minhas primeiras impressões do livro e em breve voltaremos aqui com mais posts. Já li o livro 2 (e muitos outros haha!) e logo logo sai o próximo post, com mais um pouco do nosso querido Monsenhor Bienvenu. Desculpe se escrevi demais, ou algo errado ou difícil de entender. Mas é uma obra grandiosa em todos os sentidos e fica um pouco complicado falar dela.
"Existe o infinito. Ele está aí. Se o infinito não tivesse um "eu", o eu seria o seu limite; e ele não seria infinito; em outras palavras, não existiria. Ora, ele existe. Logo tem um eu. Esse eu do infinito é Deus" - pág. 83
:: COMENTÁRIOS DA INES ::
:: Pimeira Parte - Fantine / Livro 1 – Um Justo ::
Nesta primeira parte de Os Miseráveis, é abordada a vida Charles François Bienvenu Myriel, ou apenas Monsenhor Bienvenu Myriel.
Um senhor de aproximadamente 75 anos, Bispo de Digne. Charles Myriel era filho de um conselheiro parlamentar de Aix, casou-se muito cedo pelos costumes entre as famílias de parlamentares e deu o que falar pelo seu comportamento... Dedicou grande parte da juventude (apesar de casado) à sociedade e aos galanteios.
Com a Revolução foi com a família para a Itália, sua mulher faleceu devido a problemas pulmonares já existentes e não tiveram filhos. Não sabe-se ao certo por qual motivo, mas ao retornar da Itália, voltou como padre.
Em 1804 era pároco da Igreja de Brignolles e vivia em solidão, foi para Paris tratar de assuntos da sua paróquia onde encontrou com sua majestade Napoleão...
Napoleão sentiu-se curioso por um humilde homem e perguntou sobre ele a Myriel e após essa conversa, Myriel foi nomeado Bispo.
O agora Bispo Myriel não possuía bens, sua irmã recebia cerca de 500 francos anuais e ele por ser Bispo recebia um ordenado de 15 mil francos para suas despesas. Assim que fixou residência no hospital (mudou-se para lá após ver que os pacientes não tinham praticamente espaço entre si... transferindo-os para o Palácio Episcopal).
Após esse ato, dividiu seus 15 mil francos de forma justa a ajudar os mais necessitados. Além dos 15 mil, a Sra Magloire o recordou de um subsídio que o Departamento cedia para despesas de carruagem e gastos com estadia na diocese. O povo reclamou obviamente... porém o Bispo Myriel fez a mesma divisão para ajudar os que mais precisavam.
Seu bispado ao meu ponto de vista e até a parte em que parei, foi muito justo e bondoso. Bispo Myriel respeitava desde o mais minúsculo dos animais até o mais arrogante e prepotente dos homens.
Existiam aqueles que acreditavam apenas nas leis da natureza, os isolados por opção... No caso do isolamento em si, foi uma parte muito legal de ser lida.. Bispo Myriel teve uma lição de humildade no lugar em que ele menos imaginava. Achei tocante, afinal, nem tudo é da maneira que se imagina.
Bispo Myriel gostava da solidão. Além de viver numa aldeia distante de quase tudo, o que ele mais gostava de fazer era cuidar de seu jardim, passava horas passeando por ele, chegando muitas vezes a dormir no próprio jardim. Gostava também de praticar suas longas caminhadas além de ler e escrever.
Estou bastante curiosa em saber o que vai acontecer com ele, mas principalmente.. gostaria de entender como ele decidiu mudar tão radicalmente de vida, saindo do meio da sociedade e partindo para uma vida de renúncias.
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Seguem dados da edição que estamos usando para nosso diário de leitura. Essa edição é facilmente encontrada nas livrarias e lojas online. É a obra completa, não condensada.
Título: Os Miseráveis
Título Original: Les Misérables
Autor: Victor Hugo
ISBN: 9788544000007
Tradutora: Regina Célia de Oliveira
Editora: Martin Claret
Ano: 2014
Número de páginas: 1511
Número de páginas: 1511
Sinopse: O fio condutor é o personagem de Jean Valjean, que, por roubar um pão para alimentar a família, é preso e passa dezenove anos encarcerado. Solto, mas repudiado socialmente, é acolhido por um bispo. O encontro transforma radicalmente sua vida e, após mudar de nome, Valjean prospera como negociante de vidrilhos, até que novos acontecimentos reconduzem-no ao calabouço.
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Bel VF ♥ Ines
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