Esse livro
me foi uma grata surpresa, fui cheia de medo encarar o bicho papão chado
William Faulkner e me apaixonei pela fera, me surpreendi e fui conquistada, em
dois meses li três livros dele e comprei mais um monte, quero ler tudo que ele
escreveu e se você ai tem vontade lê-lo, o leia, vale a pena.
Eu
particularmente não tenho medo mais de ler nenhum livro, para alguns como Graça
Infinita não me sinto preparada, já com outros como O jogo da amarelinha, sinto
que serão lidos em breve. Acredito no momento de ler o livro e se não estiver
rolando aquela química, muito bem, eu espero.
Esse livro
foi um dos raros casos que terminei com vontade de reler, pelo que percebi a
leitura dele (e dos outros que li do Faulkner) não se esgota com uma leitura,
mas se enriquece com várias releituras.
Esse livro
tem um clima noir, quase um clima de detetive
(como a Claire Scorzi cita no seu vídeo), acho que esse livro é o mais
acessível do Faulkner, tanto por ser curto, como por ser menos hermético e ter
apenas um foco narrativo, foco que segue linear na história.
Quando
ocorreu a conexão com a história, não queria mais largar o livro, é
recompensador, Faulkner pra mim é que nem aquele professor que não facilita,
mas que quando você entende o que ele quer dizer é incrível e você aprende
muito. Ele escreve de forma direta, simples, mas que muitas vezes toca, dá aquele friozinho na espinha, arrepia
e mexe com os sentimentos.
Santuário é
um livro tenso, ele é todo suspense e estica a apreensão que isso trás, mas de
forma que o leitor não consiga identificar o porquê da tensão, é como se uma
coisa ruim estivesse o tempo todo pairando no ar, prestes a acontecer, mas o
leitor não sabe, ele sente. Acredito que para ler esse livro você tem que
comprar a história, sentir o livro e ir sem medo, tem que se envolver de corpo
e alma, pelo menos pra mim essa foi a graça.
O livro
começa sendo narrado pelo ponto de vista de Horace Benshow, que decide
abandonar a mulher e voltar pra cidade natal, onde sua irmã Narcisa mora. Durante
a volta pra casa ele se perde e vai parar em um lugar muito estranho, de
repente, do nada uma figura soturna, um negro todo engomado vestido uma roupa
estranha, que causa desconforto imediato em Horace, sua figura é incomoda e
sombria.
Esse negro
se chama Popoye, por mais estranho que ele pareça, por mais amedrontador, ele
decide ajudar Horace a chegar na cidade, mas antes ele lo leva para um lugar
estranho, onde um bando de homens brutos está reunido trabalhando na produção
clandestina de bebidas (era o período da lei seca nos Estados Unidos), Horace
sente o perigo, mas não tem como fugir. Nada demais acontece e Horace consegue
finalmente chegar a Jefferson, seu destino. Vou parar por aqui, para não estragar
o clima.
O que eu
sinto com esse livro é que nenhuma informação é dada totalmente, que as coisas
são dadas de forma que o leitor ligue os fatos, existe uma ambiguidade nos
fatos, é como se as informações fosse dadas por indiretas.
Além do
núcleo de Horace, existe o núcleo de Temple, uma mocinha que decide fugir da
escola para viver uma aventura com um rapaz, ela é uma personagem sem voz na
narrativa, pois é o tempo todo passiva, apática (até nos momentos em que ela
deveria ter raiva pelas coisas que acontecem com ela), temos acesso aos fatos,
mas nunca ao que ela sente, deferentemente de Horace, que se fragiliza pela demonstração
das suas fraquezas, ela se fortalece pela resignação e pelo silêncio. A única
vez que ela deixa extravasar as emoções é trágico e causa mais dor que leveza.
O que me
ganhou nesse livro foi a construção de personagens, não dá pra definir quem é
bom, quem é mal e quais as reais motivações de cada um. Algumas vezes as
motivações, sentimentos e até mesmo a personalidade são mostradas, mas nunca de
forma direta ou completamente.
Adorei o
fim desse livro e por mais que os temas e dramas sofridos sejam pesados, existe
beleza nisso, é como se houvesse o contraponto e a forma direta da escrita de
Faulkner só acentua isso. Nesse livro as atitudes dizem mais que as palavras e
isso por si só já é belo.
Até a
próxima! ;)
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