terça-feira, 2 de junho de 2015

{Fabí} 'Tá lido # 76 -Santuário, William Faulkner



Esse livro me foi uma grata surpresa, fui cheia de medo encarar o bicho papão chado William Faulkner e me apaixonei pela fera, me surpreendi e fui conquistada, em dois meses li três livros dele e comprei mais um monte, quero ler tudo que ele escreveu e se você ai tem vontade lê-lo, o leia, vale a pena.

Eu particularmente não tenho medo mais de ler nenhum livro, para alguns como Graça Infinita não me sinto preparada, já com outros como O jogo da amarelinha, sinto que serão lidos em breve. Acredito no momento de ler o livro e se não estiver rolando aquela química, muito bem, eu espero.

Esse livro foi um dos raros casos que terminei com vontade de reler, pelo que percebi a leitura dele (e dos outros que li do Faulkner) não se esgota com uma leitura, mas se enriquece com várias releituras.
Esse livro tem um clima noir, quase um clima de detetive (como a Claire Scorzi cita no seu vídeo), acho que esse livro é o mais acessível do Faulkner, tanto por ser curto, como por ser menos hermético e ter apenas um foco narrativo, foco que segue linear na história.


Quando ocorreu a conexão com a história, não queria mais largar o livro, é recompensador, Faulkner pra mim é que nem aquele professor que não facilita, mas que quando você entende o que ele quer dizer é incrível e você aprende muito. Ele escreve de forma direta, simples, mas que muitas vezes  toca, dá aquele friozinho na espinha, arrepia e mexe com os sentimentos.

Santuário é um livro tenso, ele é todo suspense e estica a apreensão que isso trás, mas de forma que o leitor não consiga identificar o porquê da tensão, é como se uma coisa ruim estivesse o tempo todo pairando no ar, prestes a acontecer, mas o leitor não sabe, ele sente. Acredito que para ler esse livro você tem que comprar a história, sentir o livro e ir sem medo, tem que se envolver de corpo e alma, pelo menos pra mim essa foi a graça.

O livro começa sendo narrado pelo ponto de vista de Horace Benshow, que decide abandonar a mulher e voltar pra cidade natal, onde sua irmã Narcisa mora. Durante a volta pra casa ele se perde e vai parar em um lugar muito estranho, de repente, do nada uma figura soturna, um negro todo engomado vestido uma roupa estranha, que causa desconforto imediato em Horace, sua figura é incomoda e sombria.

Esse negro se chama Popoye, por mais estranho que ele pareça, por mais amedrontador, ele decide ajudar Horace a chegar na cidade, mas antes ele lo leva para um lugar estranho, onde um bando de homens brutos está reunido trabalhando na produção clandestina de bebidas (era o período da lei seca nos Estados Unidos), Horace sente o perigo, mas não tem como fugir. Nada demais acontece e Horace consegue finalmente chegar a Jefferson, seu destino. Vou parar por aqui, para não estragar o clima.

O que eu sinto com esse livro é que nenhuma informação é dada totalmente, que as coisas são dadas de forma que o leitor ligue os fatos, existe uma ambiguidade nos fatos, é como se as informações fosse dadas por indiretas.

Além do núcleo de Horace, existe o núcleo de Temple, uma mocinha que decide fugir da escola para viver uma aventura com um rapaz, ela é uma personagem sem voz na narrativa, pois é o tempo todo passiva, apática (até nos momentos em que ela deveria ter raiva pelas coisas que acontecem com ela), temos acesso aos fatos, mas nunca ao que ela sente, deferentemente de Horace, que se fragiliza pela demonstração das suas fraquezas, ela se fortalece pela resignação e pelo silêncio. A única vez que ela deixa extravasar as emoções é trágico e causa mais dor que leveza.

O que me ganhou nesse livro foi a construção de personagens, não dá pra definir quem é bom, quem é mal e quais as reais motivações de cada um. Algumas vezes as motivações, sentimentos e até mesmo a personalidade são mostradas, mas nunca de forma direta ou completamente.
Adorei o fim desse livro e por mais que os temas e dramas sofridos sejam pesados, existe beleza nisso, é como se houvesse o contraponto e a forma direta da escrita de Faulkner só acentua isso. Nesse livro as atitudes dizem mais que as palavras e isso por si só já é belo.


Até a próxima! ;)

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