segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Tá lido #14 - Vidas secas, Graciliano Ramos

Vidas Secas
Autor: Graciliano Ramos
Editora: Record
Páginas: 178
Avaliação Pessoal: ****
Sinopse: O que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro. Apesar desse sentimento de transbordante solidariedade e compaixão com que a narrativa acompanha a miúda saga do vaqueiro Fabiano e sua gente, o autor contou: "Procurei auscultar a alma do ser rude e quase primitivo que mora na zona mais recuada do sertão... os meus personagens são quase selvagens... pesquisa que os escritores regionalistas não fazem e nem mesmo podem fazer ...porque comumente não são familiares com o ambiente que descrevem...Fiz o livrinho sem paisagens, sem diálogos. E sem amor. A minha gente, quase muda, vive numa casa velha de fazenda. As pessoas adultas, preocupadas com o estômago, não tem tempo de abraçar-se. Até a cachorra [Baleia] é uma criatura decente, porque na vizinhança não existem galãs caninos". VIDAS SECAS é o livro em que Graciliano, visto como antipoético e anti-sonhador por excelência, consegue atingir, com o rigor do texto que tanto prezava, um estado maior de poesia.


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Demorei tanto pra ler esse livro e olha que eu já devia ter lido ele há muito tempo por "obrigação", pois ele é um daqueles livros "chatos" das listas  de vestibular e de leitura obrigatória do colégio, mas nunca me senti bem lendo-o e sempre o abandonei... que injustiça né?

Pra falar a verdade ele ainda me incomodou, acho que o fato de as pessoas se parecerem mais com bichos que a própria Baleia (a cachorra) e a falta de comunicação e afeto no lar me deixaram triste e ao mesmo tempo feliz, triste por ser uma realidade muito comum ainda no Brasil, embora esse livro seja de 1921 ante feliz por não fazer parte dessa realidade e de ter muitas oportunidades e coisas que para os personagens do livro são muito distantes.

Pra mim quanto mais o livro me toca, quanto mais me trás reflexões e me aproxima dos personagens, mais ele é valorizado e uma leitura prazerosa, mesmo que ela seja incomoda e mais densa, acho que ler é melhor ainda quando te agrega novas coisas e olhares que você nunca foi capaz de ter antes e esse livro nesse quesito é muito completo.

Os sentimentos e anseios dos personagens são quase palpáveis e a empatia é muito grande, perceber que as crianças se sentem tão pequenas e frágeis, o quanto Sinha Vitória deseja uma cama de couro e que no momento em que Fabiano poderia se tornar mais ainda semelhante à um bicho, ele se humaniza e se aproxima mais de um homem.

E por mais sofridos e sem esperanças que eles possam parecer, eles são puros e ingênuos e nesse ponto talvez ser parecido com um bicho é melhor do que ser civilizado, injusto e maldoso como um Soldado Amarelo, mas também do ponto de vista de Fabiano o homem mais sábio, o da Bandoleira, é também o mais simples e o mais complicado, o mais humilde e o maior ídolo, alguém que ele admira e estranha.

Desse ponto de vista Fabiano é um homem inseguro, sonhador e que quer ser feliz, mas põe o seu interesse acima do da família, mas sempre pensando que esse é o melhor, não por maldade. A falta de conhecimento e a dificuldade de se comunicar e relacionar com outras pessoas gera medo, insegurança e desconfiança, afastando ainda mais a família do mundo exterior e considerando todo mundo que tem mais condições ou conhecimentos corruptos e malvados, que querem sempre levar vantagens em cima dos pobres.

No fim é uma leitura triste, mas muito bem escrita e muito real ao mesmo tempo, os regionalismos não atrapalham em nada e no fim te aproximam mais dessa família esquisita e ao mesmo tempo simples e igual a todas as outras.

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