terça-feira, 14 de abril de 2015

{Fabí} 'Tá lido #75 - O complexo de Portnoy, Philip Roth

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Não estava conseguindo conectar muito os pontos desse livro, os aspectos e toda a importância desse livro na obra de Roth, até que eu assisti esse vídeo e consegui me organizar, tem vezes que olhando de fora conseguimos organizar o que vem de dentro.

Talvez não seja a melhor obra para ingressar no mundo de Roth, ou seja, quem sabe. Mas pelo que pude perceber é um livro extremo dele, bem escatológico, que no fim foi um ponto de mudança na obra dele e na sua visão de escritor. Pelo que pesquisei a obra dele é cheia de microciclos, pequenos conjuntos de microcosmos, com temas e personagens que se repetem.




Dizem que quem começa por Complexo de Portney já entra em contato com todos os temas que seram abordados na obra dele e esse livro prende o leitor, então essas cenas escatológicas, extremas e escrachadas, acabam soando como uma piada de mal gosto. 

Esse livro é narrado em primeira pessoa, Alexander Portnoy é um homem já na faixa dos 45/50 anos que está em uma sessão de terapia, onde ele vai contar fatos da sua infância, adolescência e idade adulta. Como tudo é narrado pelo ponto de vista de Alexander Portnoy fica a dúvida se ele é confiável, acredito que ele não seja, porque ele mesmo se contradiz em vários momentos.

Uma coisa que pode gerar certo estranhamento é o fluxo continuo de assuntos que muitas vezes parecem sem conexão, é como se ele começasse a falar sem pensar e seguisse esse fluxo de pensamentos desconexos, algumas vezes pra afirmar, negar ou justificar as escolhas e tendências dele.

Como é uma sessão de terapia ele não esconde suas manias, suas taras e até a paixonite por sua mãe, ele a culpa por superprotege-lo, é como se ela fosse quase santificada, mas ao mesmo tempo consegue ver nela uma mulher sedutora e atraente, queo  provoca e instiga sexualmente.

Mas com o tempo percebemos que tudo o instiga sexualmente, esse livro é como dizem "uma ode a masturbação", esse homem desde menino não tira a mão do pênis e usa a sexualidade para "fugir" ou "contestar" a sensação de não pertencimento, de ser um judeu na América e um americano entre os judeus.
Ano: 2013
Páginas: 240
Idioma: português
Editora: Companhia de Bolso
Esse sentimento é fruto da criação em uma colonia de judeus no subúrbio dos Estados Unidos, uma criança que vive a vida familiar segundo os preceitos judeus, mas na escola e na vizinhança os americanos e seu modo de vida, principalmente as mulheres. 

O menino cresce, mas continua com certa fascinação pela mãe, um exemplo disso é que ele não consegue se imaginar casado com uma judia, nem consegue se casar com uma americana, já que sua mãe não aprovaria. Além disso, ele tem um sentimento de desprezo pelo seu pai, como se ele fosse um homem muito insignificante para uma mulher incrível como a mãe dele.

Em alguns momentos eu me incomodei com algumas cenas, por exemplo, quando ele se masturba com o bife de fígado que a família janta depois, ou quando ele usa calcinhas da irmã para se masturbar. Talvez tenha me incomodado por ter toda uma questão moral por trás e que me chocaram por ir contra os meus valores, mas depois eu me acostumei e comecei a sentir pena dele.

A única relação verdadeira que ele conseguiu construir é com seu pênis, ele que é um advogado de direitos humanos, subjuga as mulheres, despreza os judeus, ignora sua família e não se relaciona sem interesse com ninguém, no fim ele é uma pessoa muito vazia e ele meio que se enxerga assim, mas não consegue agir de forma diferente.

Esse livro pode ser recebido como uma piada de judeus de mal gosto ou uma paródia, uma obra que transforma uma pessoa que sofre algum tipo de segregação em uma pessoa miserável pelas suas escolhas e pela falta de conexão verdadeira com alguma coisa/ alguém, esse sentimento de não pertencimento o isola e faz com que ele só consiga realmente ser e dizer o que quer em uma sessão de terapia.

Por hoje é só!

;)

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